Sex19042024

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Poupado

poupado"Ficando eu de resto." (Ez 9-8)

A VISÃO de Ezequiel, registrada no capítulo prévio, trouxe à luz as abominações da casa de judá. A visão que se segue neste capítulo mostra a terrível punição im­putada pelo Senhor Deus à nação culpada, começan­do por Jerusalém.

Ele viu os executores apresentarem-se armados, e o homem ves­tido de Unho marcar as pessoas antes que os executores começassem o trabalho de destruição pela porta do Templo; viu-os sair pelas prin­cipais ruas da cidade e não deixar de percorrer um único beco; eles mataram todas as pessoas que não tinham o sinal na testa marcado com a tinta do tinteiro de escrivão. Ele ficou só, esse profeta do Se­nhor, ele próprio poupado em meio ao massacre universal; e quando as carcaças caíram aos seus pés, e corpos manchados de sangue der­ramado e coagulado jaziam espalhados ao redor, ele disse: "Ficando eu de resto". Ele ficou vivo entre os mortos, porque foi encontrado fiel entre os incrédulos. Ele sobreviveu à destruição universal, porque tinha servido o seu Deus em meio à depravação universal.

Agora retiraremos a sentença da visão de Ezequiel e nos apropri­aremos dela. Penso que quando a relemos e a repetimos: ''Ficando eu de resto", ela muito naturalmente nos convida a fazer um retrospecto do passado, também sugere muito prontamente um prospecto do futu­ro, e, acho, permite igualmente um contraste terrível reservado aos impenitentes.

 

1. Em primeiro lugar, meus irmãos, temos aqui uma reflexão paté­tica, que nos convida a fazer um retrospecto solene. "Ficando eu de resto'-. Muitos aqui se lembram dos tempos de enfermidade, quando a cólera grassava pelas ruas da cidade. Talvez você tenha esquecido aquele período de pestilência, mas eu não, nunca esquecerei, quan­do os deveres de meu pastorado me convocaram a andar continua­mente por entre as casas atingidas pelo terror e ver os que morriam e os mortos. Impresso em meu coração sempre permanecerá algumas dessas cenas tristes que testemunhei quando cheguei pela primeira

vez a esta metrópole e, em vez de abençoar os vivos, fui empregado para enterrar os mortos. Alguns aqui presentes passaram não só por uma epidemia de cólera, mas por muitas, e talvez tenham testemu­nhado também climas onde a febre prostrava centenas de pessoas, e onde a peste e outras doenças medonhas esgotaram seus tremores, e toda seta atingiu o alvo no coração de alguns de seus companheiros. Contudo, alguns ficaram de resto. Você andou por entre os sepulcros, mas não tropeçou neles. Doenças cruéis e fatais espreitaram seu ca­minho, mas não lhes foram permitido devorar você. Balas da morte assobiaram perto de seus ouvidos, e no entanto você ficou vivo, pois a bala não estava destinada ao seu coração. Você olha para trás, al­guns de vocês, por cinqüenta, sessenta, setenta anos. A cabeça calva e branca conta a história de que você não é mais um recruta inexperiente na guerra da vida. Você se tornou veterano, se não invá­lido, no exército. Você está pronto para se aposentar, tirar a armadura e dar lugar a outro. Olhe para trás, irmão, você entrou no descanso; lembre as muitas vezes em que você viu a morte granizar multidões à sua volta, fazendo-o pensar: "Eu fiquei de resto". E nós também que somos mais jovens, em cujas veias o sangue ainda pulsa com vigor, nos lembramos dos tempos de perigo quando milhares caíam à nossa volta, contudo podemos dizer na casa de Deus com grande ênfase: "Eu fiquei de resto" — protegido, grande Deus, quando muitos outros pereceram; sustentado, permanecendo sobre a rocha da vida quando as ondas da morte colidiam sobre mim, os borrifos incidiam com forte impacto sobre mim e meu corpo ficou saturado com doença e dor, contudo ainda estou vivo — ainda tenho a permissão de conviver entre as ocupadas tribos dos homens.

Que retrospecto como este nos sugere? Não deve cada um de nós fazer a pergunta: "Para que fui poupado? Por que fui deixado?" Nessa época muitos de vocês estavam — c mesmo agora alguns ainda estão — mortos em delitos e pecados. Você não foi poupado porque era fiel, pois você não produziu nada mais que as uvas de Gomorra. Certamente, Deus não deteve sua espada por haver alguma coisa boa em você. Inúmeros e clamorosos males em seu temperamento, se não ainda em sua conduta, bem poderiam ter exigido sua execução. Você foi poupado. Deixe-me perguntar-lhe por quê. Foi porque essa misericórdia o visitou, essa graça renovou sua alma? Você constatou que foi 0 que se deu com você? A graça soberana o venceu, destruiu os preconceitos, desgelou seu coração glacial, fez em pedaços sua vontade empedernida? Pecador, lembrando as vezes em que você ficou de resto, você foi poupado para que fosse salvo com grande salvação? E se você não pode dizer sim a esta pergunta, permita-me perguntar-lhe se ainda não pode. Amigo, por que Deus o poupou por tanto tempo, quando você ainda era inimigo dEle, um estranho para Ele e muito distante dEle pelas más obras? Ou, pelo contrário, Ele o poupou — tremo com a mera menção da possibilidade —, Ele pro­longou seus dias para desenvolver suas propensões a fim de que você ficasse mais maduro para a condenação, enchesse a medida de sua flagrante iniqüidade e fosse lançado no inferno, um pecador murcho e seco, como lenha pronta para o fogo? Sua vida encontra-se em tal situação? Esses momentos poupados se deteriorarão através de más condutas, ou serão entregues ao arrependimento e à oração? Antes que o último dos sóis se ponha em trevas perpétuas para você, você olhará para Ele agora? Neste caso, você terá razão de bendizer a Deus por toda a eternidade porque você ficou de resto, porque você ficou de resto para que ainda buscasse e ainda o encontrasse, aquEle que é o Salvador dos pecadores.

Será que entre muitos de vocês a quem falo não são cristãos, e vocês, também, não ficaram de resto? Quando santos melhores que você foram arrancados dos vínculos terrenos de laços familiares, quan­do estrelas mais luminosas que você foram enviadas pela noite, você ainda teve a permissão de brilhar com seu pobre e tremeluzente raio? Por que, grande Deus? Por que eu fiquei de resto? Vou fazer essa pergunta para mim mesmo. Ao me poupar por tanto tempo, meu Senhor, tu não tens algo mais para eu fazer? Não há um propósito até agora não concebido em minha alma, o qual tu irás me indicar, para cuja execução tu ainda me darás graça e força e ainda me pouparás por mais um pouco de tempo? Ainda sou imortal ou protegido ao menos de toda seta de morte, porque meu trabalho está incompleto? A história dos meus anos foi prolongada porque toda a história das tabuinhas1 ainda não se completou? Então mostre-me o que tu tens para eu fazer. Visto que fiquei de resto, ajuda-me a que eu me sinta como alguém especialmente consagrado, deixado para um propósito. guardado para um fim, de outro modo eu teria tido vermes, virado comida há muito tempo e meu corpo esmigalhado de volta à terra mãe. Cristão, sempre faça esta pergunta para si mesmo; mas faça sobretudo quando em tempos de doença e mortalidade incomuns você é poupado. Se fiquei de resto, por que foi? Por que não fui levado para casa no céu? Por que não entrei em meu descanso? Gran­de Deus e Senhor, mostra-me o que tu tens para eu fazer, e dá-me graça e força para fazê-lo.

Mudemos o retrospecto por um momento e olhemos a misericór­dia poupadora de Deus sob outra luz. "Eu fiquei de resto". Alguns aqui presentes, cuja história eu sei bem, podem afirmar: "Eu fiquei de resto", e dizê-lo com ênfase peculiar. Você nasceu de pais descrentes; as primeiras palavras de que você se lembra eram vis e blasfemas, muito ruins para repetirmos. Você se lembra de quanto estava poluí­do o ar que seus pulmões infantis sorveram em sua primeira respira­ção — o ar do vício, do pecado e da iniqüidade. Vocês cresceram, você e seus irmãos e irmãs, lado a lado; vocês encheram a casa de pecado, prosseguiram em seus delitos juvenis e incentivavam-se uns aos outros a hábitos ruins. Assim você cresceu para a humanidade, e depois foi atado em laços de obliqüidade como também em laços de consangüinidade. Você aumentou as opções; fez novas associações À medida que seu círculo familiar aumentava, assim aumentava a notoriedade de sua conduta. Vocês todos conspiraram para transgre­dir o sábado; você engendrou a mesma artimanha e perpetrou as mesmas impropriedades.

Talvez você recorde o tempo em que sempre que os apelos de domingo eram feitos, uma zombaria à santidade era expressa diante do convite. Você se lembra de como um e outro de seus antigos companheiros morreu; você os acompanhou até o sepulcro e sua alegria foi retida por um pouco, mas logo irrompeu novamente. En­tão uma irmã morreu, consumida pela infidelidade; depois um irmão foi levado; ele não tinha esperança na morte; tudo era trevas e deses­pero para ele. E assim, pecador, você sobreviveu a todos os seus companheiros. Se você está inclinado a ir para o inferno, tem de ir para lá por um caminho trilhado; um caminho que, quando você olha para trás e vê o que já percorreu, está manchado de sangue. Você se lembra de como tudo era antes de você ter ido para a casa longínqua em trevas espessas, sem vislumbre ou raio de alegria? E agora você ficou de resto, pecador; e, santificado seja Deus, talvez você diga: "Sim, não só fiquei de resto, mas estou aqui na casa de oração; e se conheço meu coração, não há nada que eu odeie tanto quanto viver a vida que eu tinha. Aqui estou, e nunca acreditei que um dia estaria aqui. Olho para trás com profundo lamento por aqueles que já parti­ram; mas ainda que os lamente, expresso minha gratidão a Deus por eu não estar em tormentos — não no inferno —, mas ainda aqui; não somente aqui, mas tendo esperança de que um dia verei a face de Cristo e ficarei entre mundos flamejantes revestido com sua justiça e guardado por seu amor".

Você ficou de resto, e o que você deve dizer? Você deve se jactar? Não; seja duplamente humilde. Você deve tomar a honra para si? Não; ponha a coroa na cabeça da graça livre, rica e imerecida. E o que você deve fazer acima de todos os outros homens? Você deve se empenhar duplamente em servir a Cristo. Assim como você serviu o Diabo resolutamente, até que chegou a servi-lo exclusivamente, e todos os seus amigos morreram, pela graça divina empenhe-se por Cristo — para segui-lo, ainda que o mundo inteiro o menospreze, e continuar até ao fim, até, se todo mestre se apostatar, que seja dito acerca de você no final: "Ele ficou de resto. Só ficou ele em pecado enquanto seus companheiros morreram todos, e então só ele ficou em Cristo quando seus amigos o abandonaram". Isto sempre deve ser dito acerca de você: "Ele ficou de resto".

Isto também sugere mais uma forma do mesmo retrospecto. Que providência especial cuidou de nós e guardou nossas estruturas fra­cas! Entre vocês há, em particular, os que ficaram de resto numa idade que, se você olhar para os dias da mocidade, evocará muito mais parentes na tumba do que no mundo — mais debaixo da terra do que sobre ela. Em seus sonhos, você é companheiro dos mortos. Contudo você ficou de resto. Protegido entre mil perigos da infância, guardado na mocidade, guiado com segurança acima dos baixios e areias movediças da imaturidade, acima das pedras e recifes da matu­ridade, você chegou além do período regular da vida mortal e ainda está aqui- Setenta anos exposto à morte perpétua, e ainda guardado até que chegue, talvez, quase aos oitenta anos.

Você ficou de resto, meu querido irmão, mas por quê? Por que todos os irmãos e irmãs já partiram? Por que os antigos companheiros de escola foram se reduzindo em número? Você não se lembra de ninguém, que hoje esteja vivo, que tenha sido seu amigo na mocidade. Como é que você, que viveu em certo período há tanto tempo, vê novos nomes em todas as portas de lojas, novos rostos nas mas e tudo novo em relação ao que viu outrora nos dias da sua mocidade? Por que você foi poupado? Você não é convertido? Você é mulher não convertida? Você foi poupado para que fim? É para que você seja salvo na undécima hora — que Deus o conceda —, ou você foi pou­pado até que tivesse pecado até às mais baixas profundezas do infer­no, a fim de que vá para lá como o mais exasperado pecador por causa de repetidas advertências que foram todas negligenciadas — você foi poupado para isso, ou foi para que seja salvo? Mas você é cristão? Então não é difícil responder a pergunta: Por que você foi poupado?

Eu não creio que haja uma mulher idosa na terra, vivendo na cabana mais obscura da Inglaterra e sentada esta mesma noite no escuro, com falta de vela, sem ter meios para comprar outra — eu não creio que essa senhora idosa seja mantida fora do céu por cinco minutos a menos que Deus tivesse algo para ela fazer na terra; e não acho que os velhos sejam preservados aqui a menos que houvesse algo para eles fazerem. Conte, conte, você, homem idoso; conte a história dessa graça preservadora que o guardou até aqui. Conte a seus filhos e netos que é em Deus que você confia. Levante-se como patriarca venerável e conte como Ele o livrou em seis dificuldades diferentes, e em sete nenhum mal o tocou. Preste às gerações futuras o testemunho fiel de que a palavra que Ele disse é verdadeira e que a promessa que Ele fez não pode falhar. Apóie-se em seu bordão e diga antes de morrer no meio de sua família: "Nem uma só palavra caiu de todas as boas palavras que falou de vós o Senhor, vosso Deus" (Js 23.14). Que seus dias maduros produzam um testemunho jovial do amor de Deus; e à medida que você for avançando em anos, seja cada vez mais avançado em conhecimento e na convicção confirma­da da imutabilidade do seu conselho, da veracidade do seu juramen­to, da preciosidade do seu sangue e da certeza da salvação de todos os que puseram a confiança nEle. Então saberemos que você foi pou­pado para um propósito sublime e nobre. Você dirá com lágrimas de gratidão e o ouviremos com sorrisos de alegria: "Eu fiquei de resto".

 

2. Tenho de sugerir estes retrospectos em vez de segui-los, embo­ra, permita o tempo, aumentemos bem abundantemente, e portanto, devo me apressar em convidá-lo para um prospecto. "Ficando eu de, resto". Você e eu logo passaremos deste mundo para outro. Esta vida é apenas uma balsa; estamos sendo transportados, e em breve chega­remos à verdadeira margem, a verdadeira terra firme, pois aqui não há nada que seja significativo. Quando entrarmos no mundo vindou­ro, teremos de esperar uma ressurreição para breve — uma ressurrei­ção dos justos e dos injustos; e nesse dia solene devemos esperar que tudo o que habita a face da terra venha a ser reunido em um lugar. E Ele virá, aquEle que outrora viera para sofrer: “[Ele] vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo e o povo, com eqüidade" (SI 98.9). AquEle que veio como criança virá como o Infinito. AquEle que foi deitado envolto em faixas virá cingido com cinto de ouro, com grinalda de arco-íris e vestes de tempestade. Lá, todos seremos uma multi­dão inumerável; a terra será coroada desde o mais profundo leito do vale até o ápice da montanha, e as ondas do mar se tornarão o lugar permanente e sólido para os homens e mulheres que dormiram sob suas torrentes. Então todo olho se fixará nEle, todo ouvido estará aberto para Ele e todo coração observará com temor solene e expec­tativa temerosa as realizações daquele que será o maior de todos os dias, aquele dia de dias, aquele sinete das eras, quando será consu­mada a dispensação. Em pompa solene, entra o Salvador e seus anjos com Ele. Você ouve a voz quando Ele brada: "Colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar" (Mt 13-30).

Veja os ceifeiros, como vêm com asas de fogo! Veja como pegam foices afiadas, que por muito tempo foram aguçadas na pedra de moinho da longanimidade de Deus, mas que finalmente ficaram afia­das. Você os vê se aproximando? E lá estão eles ceifando uma nação com as foices. Os idolatras vis caíram agora mesmo, e ali uns blasfemadores conhecidos foram esmagados debaixo dos pés dos ceifeiros, Veja um bando de bêbedos sendo levado sobre os ombros dos ceifeiros para o grande fogo ardente. Veja em outro lugar o liber­tino, o adúltero, o impudico amarrados em feixes — feixes cujos vimes nunca se arrebentarão — e serem lançados no fogo, c como brilham nos tormentos indescritíveis daquele abismo; e eu fiquei de resto? Grande Deus, estarei envolto somente na sua justiça, a justiça daquele que pôs meu Juiz aprumado no tribunal? Quando os ímpios clamarem: "Pedras, escondem-nos; montes, caiam sobre nós", estes olhos observarão, esta face ousará virar-se para a face daquEle que se assenta no trono? Estarei tranqüilo e impassível em meio ao terror e consternação universal? Serei contado com a multidão de santos que, vestidos de linho branco que é a justiça dos santos, esperarão o im­pacto, verão os ímpios lançados na destruição e se sentirão seguros? Será assim, ou serei amarrado num feixe para queimar e varrido para sempre pelo sopro das narinas de Deus, como a palha lançada ao vento? Tem de ser um ou outro; qual será? Posso responder essa pergunta? Posso falar? Posso falar — falar agora —, pois tenho neste mesmo capítulo aquilo que me ensina como julgar a mim mesmo.

Aqueles que são preservados têm a marca na testa, e possuem um caráter como também uma marca, e o caráter é: eles suspiram e cho­ram por todas as abominações dos ímpios. Se eu odeio o pecado, e se eu suspiro porque outros o amam — se eu choro porque por fraque­za caí — se o meu pecado e o pecado dos outros me são fonte constante de tristeza e vexação de espírito, então tenho a marca e a evidência daqueles que nem suspirarão nem chorarão no mundo por vir, pois a tristeza e o suspiro fugirão? Tenho hoje a marca do sangue em minha fronte? Dize, minha alma, tu puseste a fé só em Jesus Cris­to, e, como fruto da fé, tua fé aprendeu a amar, não só aquEle que te salvou, mas também os outros que ainda não estão salvos? E suspiro e choro por dentro, enquanto trago por fora a marca de sangue? Venha, irmã, irmão, responda por si mesmo, eu lhe exorto; exorto-lhe a agir assim pela terra cambaleante e pelos pilares arruinados do céu. que seguramente tremerão. Eu lhe peço pelo querubim e serafim que estarão diante do trono do grande Juiz; pelos raios ardentes que ilu­minarão a espessa escuridão, deixarão o sol maravilhado e transfor­marão a lua em sangue; por aquEle cuja língua é como chamejante espada de fogo; por aquEle que o julgará, o provará, lera seu coração, declarará seus caminhos e lhe dará sua porção eterna.

Eu o exorto, pela certeza da morte, pela caução do julgamento, pelas glórias do céu, pelas solenidades do inferno — rogo, imploro, suplico, peço —, faça agora a si mesmo estas perguntas: "Eu ficarei de resto? Eu creio em Cristo? Eu nasci de novo? Eu tenho um coração novo e um espírito reto? Ou, ainda sou o que sempre fui — inimigo de Deus, desdenhador de Cristo, amaldiçoado pela Lei, expulso do Evangelho, sem Deus e sem esperança, estranho para a comunidade de Israel?" Não consigo lhe falar com tanta seriedade quanto falaria com Deus. Quero, com isso, lançar esta pergunta em seus próprios lombos e incitar os pensamentos mais profundos do coração. Peca­dor, o que será de você quando Deus o cirandar como a palha do trigo? Qual será sua porção? Você que está de pé no corredor, qual será sua porção; você que está no meio dessa aglomeração, qual será sua porção, quando Ele voltar e nada escapar dos seus olhos? Diga-me, você o ouvirá? Diga-me, e as cordas do seu coração arrebentarão no momento em que Ele proferir o som trovejante: "Apartai-vos, mal­ditos"; ou será sua porção feliz — a sua alma transportada todo esse tempo com felicidade indizível: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25.34)? Nosso texto convida um prospecto. Peço que você o considere, olhe o fluxo estreito da morte e diga: "Eu ficarei de resto?"

 

Quando tu, meu justo Juiz, vieres

Levar para Casa teu povo resgatado.

Estarei eu entre eles?

 

Este verme desprezível que sou,

Que às vezes tem medo de morrer,

Será achado à tua mão direita?

 

3. Mas agora chegamos a um contraste terrível, que penso nos permitir o texto: "Ficando eu de resto". Haverá alguns que não ficarão de resto no sentido em que temos falado e, não obstante, ficarão de outra maneira mais horrível. Eles ficarão por misericórdia, abandona­dos pela esperança, entregues pelos amigos e tornar-se-ão presa da fúria implacável, da severidade súbita, infinita e não mitigada e da justiça de um Deus irado. Mas eles não ficarão isentos de julgamento, pois a espada os achará, as taças de Jeová lhes alcançarão os cora­ções. E esse zelo, cuja pilha é madeira, e muita fumaça os devorará súbita e irremediavelmente. Pecador, você ficará de fora. Digo que você ficará de fora de todas as alegrias afetuosas que hoje você adota — fora daquele orgulho que agora lhe robustece o coração; você será bastante humilhado. Você ficará de fora daquela estrutura de ferro que hoje repele o dardo da morte. Você ficará sem os amigos e com­panheiros que o atraem ao pecado e o endurecem na iniqüidade. Você ficará sem a sua fantasia agradável e a graça alegre que mofa as verdades da Bíblia e escarnece das solenidades divinas. Você ficará sem nenhuma das suas esperanças animadas e de todas as suas delí­cias imaginárias. Você ficará sem o anjo doce, a Esperança, que nunca abandona ninguém senão os que são condenados ao inferno. Você ficará sem o Espírito de Deus que hoje, por vezes, pleiteia com você. Você ficará sem Jesus Cristo, cujo Evangelho foi pregado com muita freqüência em seus ouvidos. Você ficará sem Deus Pai; Ele fechará os olhos da piedade contra você, suas entranhas de compaixão nunca mais anelarào por você; nem seu coração dará atenção aos seus gri­tos. Você ficará de fora; mas, repito, você não ficará como alguém que escapou, pois quando a terra se abrir para engolir os ímpios, ela se abrirá debaixo dos seus pés e o tragará.

Quando o raio reluzente vier perseguir o espírito que entra no inferno, ele o perseguirá, o alcançará e o achará. Quando Deus fizer os ímpios em pedaços e não houver ninguém que os livre, Ele fará você em pedaços, Ele lhe será como fogo consumidor, sua consciên­cia estará cheia de fel, seu coração impregnado de amargura, seus dentes serào quebrados até com pedras miúdas, suas esperanças estraçalhadas com seus raios e todas as suas alegrias fenecidas e destruídas com o seu sopro. Pecador descuidado, pecador furioso, você que agora está se arremessando para baixo a caminho da des­truição, por que bancar o louco a esse nível? Há maneiras mais em conta para rir-se de si mesmo. Bata a cabeça contra a parede; faça uns rabiscos e, como Davi, deixe a saliva escorrer pela barba, mas não permita que seu pecado caia em sua consciência e não admita que seu desdém por Cristo seja como pedra de moinho posta no pescoço, com a qual você será lançado no mar para sempre. Seja sábio, eu lhe peço. Senhor, faze o pecador sábio; cala sua loucura por algum tem­po; deixa-o sóbrio para ouvir a voz da razão; deixa-o em silêncio para ouvir a voz da consciência, deixa-o ser obediente para ouvir a voz das Escrituras. "Portanto, assim te farei, ó Israel! E porque isso te farei. prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus" (Am 4.12). Israel, "ordena a tua casa. porque morrerás e não viverás" (2 Rs 20.1).

"Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa" (At 16.31). Sinto que tenho uma mensagem hoje à noite para alguém. Embo­ra possa haver os que pensam que o sermão não é apropriado para uma congregação onde há tão grande proporção de homens e mu­lheres convertidos, contudo que grande porção de descrentes temos aqui também! Eu sei que você veio, muitos de vocês, para ouvir algu­ma história engraçada ou identificar um discurso estranho e extrava­gante de alguém que você reputa ser excêntrico. Ele é excêntrico e espera continuar assim até que morra; mas é excêntrico sendo sério e desejando ganhar almas. Pobre pecador, não há conto estranho que eu não contasse se achasse que seria bênção para você. Não há lin­guagem grotesca que eu não usasse, por mais que me fosse atirado de volta, se eu julgasse que lhe seria útil. Não tenho em vista ser conhecido como bom orador; os que usam de linguagem rebuscada moram nos palácios do rei. Eu falo com você como alguém que sabe que não tem de prestar contas a nenhum homem, senão a Deus; como alguém que terá de prestar contas de si mesmo no último gran­de dia. E peço-lhe que você não fale sobre isto e aquilo que observou no meu linguajar. Pense apenas sobre isto: "Eu ficarei de resto? Serei salvo? Serei arrebatado para habitar com Cristo no céu? Ou serei lan­çado no inferno para sempre e sempre?" Reflita a respeito destas coi­sas. Pense seriamente sobre elas. Ouça a voz que diz: “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora" (Jo6.37). Dê atenção à voz que repreende: "Vinde, então, e argüi-me, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã" (Is 1.18). Como sua vida será poupada quando os ímpios são julgados? Onde mais você achará abrigo quando a tem­pestade da ira divina rugir? Onde mais você estará senão na porção dos justos no fim dos dias?

ch-spurgeon

 

 

Prateleira

Este é o homem a quem olharei...

0-este-e-o-homem-a-quem-olharei

"Treme da minha palavra...", Isaías 66:1-2

Como isto te parece? O Altíssimo, busca atentamente algo nos homens, algo cujo valor transcende as iguarias dos príncipes desta terra.